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Arquivo do BTTmania

Nesta secção, divulgamos alguns artigos que foram publicados no nosso site desde o seu início no ano de 2000. Durante estes 20 anos, publicamos informação que já faz parte da história do BTT nacional. Nestas páginas pretendemos recupera essa informação, com eventos importantes que foram realizados, classificações dos campeonatos nacionais/regionais e artigos técnicos ou de opinião com relevância para a história do nosso clube e equipa de BTT.

LUSO ALPES EXTREME (09 Julho 2005)

Nota Introdutória: Evento realizado a 9 de Julho de 2005 nas Serras do Marão e Alvão, com partida e chegada na cidade de Amarante. Foi uma das primeira maratona com espírito “Extreme”, realizada em Portugal com orientação exclusiva por GPS. Nesta página, está editado o texto original com a apresentação dos percursos. No evento participaram 72 BTTistas. O percurso com 115 kms foi ganho por Guillaume Kuchel com 9h:19m. O percurso intermédio com 87 kms foi ganho por Ricardo Serra com 7h:30m e o percurso mais pequeno com 61 kms foi ganho por Paulo Lobão com 6h:02m.

Descrição dos percursos

Baseando-se numa ideia original de Guillaume Kuchel, que também idealizou e reconheceu o percurso, o Clube de BTT da Casa do Povo de Retorta levará a efeito no próximo dia 9 de Julho 2005, um evento que pretende ser uma referencia a nível nacional, no BTT extremo de alta montanha. Pretende-se criar um desafio às capacidades do BTTista, indo ao mesmo tempo ao encontro do BTT no seu estado mais puro.

O Raid LUSOALPES, é uma maratona de BTT onde os concorrentes orientam-se individualmente ou por equipas graças à tecnologia GPS. O percurso passa nos pontos mais altos das Serras do Marão e Alvão. Devido à dureza extrema, o percurso foi dividido em três níveis. Assim sendo, existem dois pontos onde os participantes, em função da sua condição física e avaliando o percurso já feito e o que ainda falta fazer, podem optar por continuar pelo percurso mais difícil ou “atalhar” pelos percursos alternativos.

Circuito 1: 61 km com 2000 D+

Circuito 2: 87 km com 3000 D+

Circuito 3: 115 km com 4000 D+

Esquema dos percursos

Parte 1: Amarante – Marão (26km)

Localidades atravessadas (km): Padronelo (4), Gondar (5), Bustelo (9), Murgido (16)

É uma parte comum aos três circuitos e talvez a mais emblemática. São cerca de 26km quase sempre a subir até atingir as antenas do Marão. O desnivelado acumulado neste troço ronda os 1500m o que representará a maior dificuldade da prova. Os primeiros 5km desenrolem-se em asfalto, pela N15 até Gondar aonde inicia-se a verdadeira subida, primeiro por caminhos de paralelo e depois por estradões cuja inclinação será elevada e constante. Entre Bustelo e Murgido, já no alto monte, existe um troço de trilho mais técnico e algumas descidas. Em Murgido há duas torneiras que podem ser útil em caso de forte calor para refrescar os ânimos antes de atacar a terrível subida já a seguir. Depois o desnivelado começa a diminuir, embora a progressão neste estradão é limitada pela muita pedra solta. Estamos então na zona das Minas do Teixo. Finalmente, antes de chegar à estrada que nos guiará até ao alto da Senhora da Serra (Marão), é preciso enfrentar uma porção de caminho corta-fogo cuja inclinação é muito forte.

Depois de passar pelas antenas, é só descer, primeiro por um trilhos com muita pedra, depois pela estrada que vai para o Alto de Espinho e finalmente por um estradão largo e rápido até o ponto de atalho 1 (CUT1) que assinala a separação do circuito 1 dos dois mais duros.

Circuito 1 – Junção (8km)

A junção do circuito 1 entre os pontos CUT1 e CUT4 não apresenta grandes dificuldades. Trata-se um caminho florestal largo em ligeira inclinação ascendente até o Alto de Espinho e ligeiramente a descer até o ponto CUT4 próximo do Alto do Velão.

Mapa do Circuito 1

Parte 2: Marão – Barragem Cimeira (CUT2) (24km)

Localidades atravessadas (km): Boavista (33), Pousada (34), Foz (37), Vilarinho (38), Arnal (45)

Sempre a descer por estradão até as povoações de Boavista e Pousada à entrada do vale da Campeã. Encontram depois um troço relativamente plano e de progressão fácil até Foz, uma minúscula aldeia. Aí começam outra vez a subir por uma mistura de estradões e de trilhos com alguma dificuldade técnica. Passam pelo local chamado Vilarinho. Uma vez em cima, com um novo grupo de ventoinhas a vista, descem em direcção a Arnal por trilhos estreitos e um pouco tapados. A descida torna-se depois mais rápida mas muito perigosa devido à pedra solta. Quando aparecer Arnal sobe outra vez, para a Barragem Cimeira, primeiro por caminhos de campos e depois por estrada. Alguns destes caminhos servem para transportar a agua dos riachos até aos campos de terra mais fértil pelo que em princípio podem estar impraticável mas de uma grande ajuda em tempos de calor. Há também nesta zona uma vedação muito rudimentar para passar, pelo que é obrigatório manter este obstáculo fechado após cada passagem com um manuseamento cauteloso. A parte amovível da vedação é situada junto à parede do abrigo aí construído.

É na Barragem cimeira que o circuito 2 separa-se do circuito 3, mais precisamente no ponto CUT2.

Circuito 2 – Junção (13km)

A junção do circuito 2 entre os pontos CUT2 e CUT3 não apresenta grandes dificuldades. Trata-se um estradão largo de bom piso, primeiro a subir e depois a descer até o Alto do Velão.

Mapa do Circuito 2

Parte 3: Barragem cimeira – Alto do Velão (Circuito 3) (41km)

Localidades atravessadas (km): Lamas de Olo (65), Barreiro (69), Varzigueto (71), Pardelhas (87)

A difícil subida para as Antenas do Alvão faz-se por estradão e apresenta alguma dificuldade devido à pedra solta, sobretudo no fim. Depois é só enrolar pelo caminho largo e de bom piso que também serve de via de manutenção das ventoinhas que aí giram. Após alguns km inicia-se a descida para Lamas de Olo via um trilho meio escondido e um pouco técnico. Na aldeia, encontrarão uma fonte.

A descida prossegue até as aldeias chamadas Barreiro e Varzigueto. Aí atravessarão o rio Olo para iniciar um trilho muito técnico a subir, com partes não cicláveis. Atenção ás mudanças de trás, pedais e pratos de pedaleira…

Descem depois por estradão para o sitio do Fojo onde ficam a secar os troncos de madeira à beira do caminho. A meio desta descida, no local aonde o estradão de terra transforma-se em asfalto, pode-se admirar as Fisgas do rio Olo. Depois de passar o Fojo, um caminho suavemente descendente vos guia até ao fundo do vale do Olo, com vista a Ermelo. A última parte da descida é por caminho corta-fogo e portanto muito rápida. Atenção às velocidades porque vão chegar à estrada que liga a Mondim de Basto.

Depois de atravessar o rio Olo outra vez, começa o último desafio do dia: a subida para o Alto do Velão. Esta inclui uma primeira parte por asfalto, um trilhos técnico e complicado para a mecânica com partes dificilmente cicláveis, uma calçada muito inclinada antes de chegar à Pardelhas onde se encontra uma fonte. Falta a última parte, sem grandes dificuldades técnicas mas que apresenta uma elevação assustadora e constante.

Parte 4: Alto do Velão – Amarante (24km)

Localidades atravessadas (km): Moure (111), Madalena (114)

Chegar ao Alto do Velão (CUT3) não significa o fim das subidas. Até ao ponto CUT4, sobe um pouco. A partir daí o caminho (de novo comum aos 3 circuitos) começa a subir mais até uma espécie de corta-fogo com aspecto intransponível. É curto mas muito duro. Depois disso, quando atingir a estrada que segue para as ventoinhas mais em cima, é sempre a descer. Os primeiros km são fáceis mas tornam-se rapidamente caóticos nomeadamente devido à pedra solta. Depois de tanto esforço e com o calor a apertar, recomenda-se a maior concentração em toda a descida: São mais de 20km! Depois deste troço muito empedrado, tudo está mais fácil mas, mais uma vez, não se distraiam, a concentração deve manter-se ao mais alto nível. Já perto do fim, ainda encontram um bonito trilho numa floresta de pinho que exige mais alguma energia. Depois estão sujeitos a cruzar-se com carros já que aparecem as primeiras habitações. O estradão passar a ser estrada de paralelo e depois de asfalto até Amarante sempre a descer e cada vez mais. Preconize-se mais uma vez o maior cuidado sobretudo nos cruzamentos.

Mapa do Circuito Completo (3)

Descrição resumida do Percurso:

Depois de um inicio por estrada (5km) inicia-se a longa subida para o Marão. São cerca de 20km, geralmente por estradão com bom piso embora com algumas passagens menos rolantes. Na parte final o piso degrada-se para dar lugar a muita pedra solta. A descida do Marão faz-se primeiro por estrada e depois por estradão, sem dificuldades até o Vale da Campeã. Inicia-se então uma subida geralmente técnica em trilhos antes de descer para a aldeia do Arnal por caminhos difíceis. 

Segue-se a subida para a Barragem Cimeira, primeiro por caminhos de campo e depois por estrada e logo depois, a subida para a antenas do Alvão. O piso e a dificuldade desta subida agrava-se progressivamente até ao final. Vem depois um sobe e desce rolante na via de manutenção das ventoinhas do Alvão e a descida em trilho meio escondido até Lamas de Olo. A descida prossegue sem dificuldades até as aldeias de Barreiro e Varzigueto onde atravessa-se o Olo e inicia a subida de um trilho muito técnico em grande parte não ciclável.

Vem a seguir a descida para as Fisgas, o lugar do Fojo e mais tarde outra vez para o rio Olo. Vem finalmente a última grande subida para o Alto do Velão. Começa por estrada, continua por um troço muito técnico e violento para a mecânica, uma calçada duríssima antes de chegar a Pardelhas e finalmente o longo estradão íngreme e constante até o Alto. Depois, é só mais uma parede até iniciar-se a descida. Longa, fácil no inicio, ela torna-se rapidamente muito perigosa devido à pedra solta. 

Na parte final ainda há um trilho com algumas subidas que gasta alguma energia. O percurso termina sempre a descer cada vez mais em estradas de povoações até Amarante. 

Em relação aos percursos 1 e 2, as junções vão ambas ligar na zona do Alto de Velão e não apresentam grande dificuldade técnica.

18º Aniversário da Primeira Peregrinação a Santiago de Compostela.

No fim de semana de 15 a 18 de Agosto de 2020, passaram-se 18 anos da primeira edição da Peregrinação a Santiago de Compostela, organizada pelo nosso clube de BTT. Para recordar esses dias, reeditamos a descrição da referida peregrinação feita na altura no nosso site.

Peregrinação a Santiago de Compostela em BTT 

Por Jorge Maia – 15 a 18 de Agosto 2002

Descrever em poucas linhas o que se passou em 4 dias de peregrinação é quase impossível. As histórias são tantas que quase dava para escrever um livro. Na memória de todos, vão ficar os momentos de convívio, camaradagem e as muitas horas de pedalada em trilhos fantásticos, que permitiram aos 30 participantes, apaixonados do BTT viverem momentos únicos.

Para alguns dos peregrinos menos bem preparadas fisicamente, houve momentos mais difíceis e até de algum desânimo, principalmente no primeiro dia. Esta primeira etapa, que pretendia ser a mais fácil, acabou por se tornar longa demais, devido a alguns Kms extra que demos na zona do Grande Porto.

É nos momentos mais difíceis que temos que pôr à prova as nossas capacidades, e quando acreditamos que somos capazes, conseguimos aquilo que às vezes parecia impossível. As peregrinações são isso mesmo, acreditarmos e termos fé de que somos capazes e os desafios, dificuldades, sofrimento e as dúvidas que alguns dos peregrinos enfrentaram mas venceram, contribuíram para a sua auto estima e com certeza que terá reflexos na sua própria vida pessoal e profissional… quase sempre, basta querer e acreditar para se conseguir.

E o que move um casal a vir propositadamente do Algarve e sem dormir, a começar a peregrinação e logo com uma etapa de 80 kms? O que move um holandês a tomar o avião para vir propositadamente a Portugal fazer esta viagem? O que leva vários empresários de sucesso, a pedalarem durante dias, quando podiam fazer a viagem em bons carros? O que fazem 30 pessoas deitadas no meio do chão a dormir profundamente no albergue de Pontevedra, cansados mas todos felizes? Porquê submeterem-se a temperaturas tórridas, alternadas com chuva, a terem que se deitar no chão, para recuperar o fôlego e a encararem as escoriações das quedas como lembranças que gostavam que ficassem marcadas na pele para sempre? As perguntas são imensas e provavelmente nem os próprios que viveram todas estas aventuras conseguem responder.

Na memória vai ficar para sempre os trilhos entre Ponte de Lima e Valença (Principalmente a partir de S. Bento da Porta Aberta), O trilho paradisíaco por que passámos entre Caldas de Reis e Padron, com a chuva miudinha a tornar o ambiente ainda mais mítico e a chegada à catedral de Santiago.

O entusiasmo com que o grupo chegou a Santiago e o orgulho que sentiu quando muitos turistas (incluindo alguns portugueses admirados) o veio felicitar, é indescritível.

Pisar aquele chão sagrado levados apenas pelo esforço físico, entrelaçar as bicicletas em sinal de união e sentados todos junto no chão marcou o final de uma jornada inesquecível.

Na viagem de regresso, a nostalgia já se tinha apoderado de alguns participantes…já estavam com saudades dos trilhos!!!

Santa Catarina é a padroeira dos ciclistas, mas dadas as características do caminho português, Santiago deve gostar muito de BTT!!!

Muito obrigado a todos.

Diário de Bordo

Dia 15/08/2002 – Quinta Feira – Porto – Barcelos (77 Kms)

Início da peregrinação na Sé do Porto

A partida oficial deu-se em frente à Sé do Porto. Antes ainda tentámos carimbar as cadernetas de peregrinos na Sé, mas foi impossível e então fomos até à Estação de S. Bento para colocar o carimbo que comprovava o local de partida desta peregrinação.

Feita a chamada, partimos em direcção à Ribeira, ainda com alguma neblina e fizemos a 1ª parte do trajecto junto ao rio. Passámos pelo Parque da Cidade do Porto e seguimos para Matosinhos, seguiu-se a ponte móvel de Leça da Palmeira e já com mais de 20 Kms chegámos a Sta Cruz do Bispo, onde fomos recebidos com foguetes! Uma breve paragem no local da romaria para abastecer alguns bolos ao som da missa que estava a ser transmitida para a rua num altifalante.

A chegada ao local de “almoço” já em Vila do Conde, na freguesia de Macieira decorreu sem grandes percalços por trilhos e algum asfalto. A beleza da freguesia de Vairão e do seu convento, fez muita gente perguntar onde estava.

Já com o estômago mais reconfortado, voltámos a dar ao pedal, com passagem pela histórica (e ainda em ruínas) ponte romana do Rio Ave em direcção a Rates, com paragem obrigatória junto à igreja. Pensa-se que Santiago esteve a prégar neste local.

O calor e os Kms acumulados começaram a fazer efeito e, já perto de Barcelos, havia alguns peregrinos do grupo mais lento em dificuldades físicas.

À entrada de Barcelos ainda houve tempo para parar na associação “Amigos da Montanha de Barcelinhos” para carimbar a credencial e receber umas lembranças desta associação muito activa e com muita qualidade nas suas organizações.

O grupo mais rápido ainda teve tempo para uma visita guiada pela Marta e Bete (duas peregrinas de Barcelos) aos principais monumentos de Barcelos.

Dia 16/08/2002 – Sexta Feira – Barcelos – Valença (80 Kms)

Ponte de Lima

O dia começou fresco. Muitas nuvens e algum nevoeiro afastaram o receio de termos que enfrentar um dia quente na etapa mais dura da peregrinação.

Apesar de ser a etapa mais dura, foi também a mais espectacular, com trilhos para todos os gostos e do melhor que se pode fazer em BTT.

Partimos de Barcelos divididos em 3 grupos. Os “TGV” grupo constituído por atletas ávidos da velocidade e das descargas de adrenalina. O grupo das “Power Girls”, onde iam todas as participantes femininas e aqueles com preparação física intermédia. Este grupo era guiado pela Marta e pela Bete. Finalmente partiu o grupo da “Brigada do Reumático”, constituído por todos aqueles que acreditavam ser os mais fracos fisicamente.

A verdade é que durante esta etapa, as surpresas foram muitas e quem acabou por chegar primeiro a Valença foi precisamente o grupo dos “reumáticos”. O segredo esteve em manter o ritmo moderado, mas constante e parar o menos possível.

De Barcelos a Ponte de Lima percorremos alguns trilhos interessantes e fizemos muitos Kms em calceta tradicional portuguesa, que provoca muitas vibrações na bicicleta e em consequência algum cansaço extra nos ciclistas. O grupo dos “TGV” foi obrigado a parar muitas vezes, vítimas dos muitos furos, o que os atrasou irremediavelmente.

Ponte de Lima, foi o local de paragem para o Almoço. Junto ao rio, num grande relvado retemperámos as forças com sandes, panados e fruta.

Daqui em diante o percurso foi ficando cada vez mais espectacular e também com muitas dificuldades. A subida perto da Sra do Socorro, até à casa do guarda, obrigou alguns participantes a um esforço considerável e até algum sacrifício. Mas, a descida fantástica que se seguiu, fez esquecer todas as dificuldades. Paragem obrigatória em S. Bento da Porta Aberta para retemperar forças num café e segui-se o troço mais espectacular da etapa. Os 16 Kms – quase sempre a descer – que ligam S. Bento a Valença foram vividos em êxtase, pela maior parte dos participantes.

Pelo meio ficaram muitas travessias de rios e riachos, por pontes medievais e passagem por paisagens onde os campos de milho eram reis e senhores.

Já perto de Valença passámos por um grande grupo de peregrinos a pé, que saudámos efusivamente.

Segui-se a passagem pelo hotel e o jantar animadíssimo num restaurante local. No final ainda houve disposição para alguns peregrinos passarem um bom pedaço em amena cavaqueira numa esplanada perto do hotel.

A etapa mais difícil, estava vencida e a satisfação de a ter cumprido era geral.

Dia 17/08/2002 – Sábado – Valença – Pontevedra (65 Kms)

Muralhas de Valença

Como não podia deixar de ser, não abandonámos Valença, sem primeiro dar uma volta pela cidade fortificada. Alguns participantes ainda não conheciam esta pérola do património histórico nacional e seria imperdoável não aproveitar esta oportunidade. Do alto das muralhas avistámos Espanha e percorremos com o olhar, muitos Kms da direcção que iríamos tomar.

Rapidamente alcançámos a ponte metálica sobre o Rio Minho e entrámos em Espanha em ambiente que deixava adivinhar grande festa. A policia tinha cortado algumas ruas, que no entanto não incomodaram os ciclistas. Ao passarmos na zona monumental da Catedral de Tui, fomos brindados com uma chuva de arroz…um grupo de pessoas estavam à espera que os noivos saíssem da igreja e quem acabou por levar com o arroz fomos nós…

Segui-se um lindo trilho que passa na Ponte das Febres ou de San Telmo, onde o santo adoeceu na sua peregrinação a Compostela.

A passagem por Porriño não teve história para o primeiro grupo, enquanto que o segundo grupo (nesse dia fomos divididos em dois grupos) passou por uma loja de bicicletas para tentar reparar uma avaria na bicicleta de um dos participantes, acabando por perder muito tempo. Curiosamente esse participante foi um dos azarados da etapa…a poucos metros da chegada partiu a corrente e acabou a etapa a ser empurrado. Com o tempo perdido na loja das bicicletas, este grupo acabou por almoçar em Porriño. O primeiro grupo almoçou em Redondela, no principal jardim da cidade (muito mal frequentado, diga-se de passagem).

Momento grande desta etapa é sem dúvida a passagem por Arcade e pela histórica ponte Sampaio, onde o povo derrotou o Mariscal Ney durante a guerra da independência. Logo depois da ponte, a subida por entre ruelas muito estreitas e íngremes ficou na memória de todos. Poucas centenas metros depois, uma velha ponte em ruínas foi também motivo de paragem.

Um longo trilho com muitas e grandes pedras obrigou toda a gente a esforço suplementar. No entanto, a beleza do local fez esquecer as dificuldades. Este mesmo caminho foi percorrido pelo exército de Almanzor, que arrasou Compostela.

O bom piso que se seguiu permitiu rolar a bom ritmo até ao albergue de Pontevedra, onde deu para o primeiro grupo descansar sob um sol acolhedor e ao som da música de Quim Barreiros, que saía de um acampamento cigano ali perto. O segundo grupo chegou cerca de duas horas depois. Vinham cansados, mas com muitas histórias para contar…

O albergue estava com muitos peregrinos e então optámos por não dormir nas camaratas, mas sim nos colchões que foram espalhados no chão de uma sala contígua à das camaratas.

Antes de dormir, ainda deu para um pequeno passeio pedestre pela cidade.

Dia 18/08/2002 – Domingo – Pontevedra – Santiago (71 Kms)

Foto em frente à Catedral de Santiago

O dia começou por volta das 7 da manhã com uma concerto de telemóveis a despertar. A ideia era começar cedo para chegarmos cedo.

A primeira surpresa do dia não se fez esperar: Uma chuva miudinha e persistente saudou os peregrinos durante os primeiros Kms. Dizem que uma peregrinação sem chuva não é abençoada…foi por este lados que a Rainha Santa Isabel de Portugal andou descalça na sua peregrinação. Apesar da chuva, a temperatura era agradável. Rapidamente alcançamos Caldas de Reis e avançámos em direcção a um dos trilhos mais espectaculares desta viagem: Uma grande descida em single track ao longo de um bosque frondoso e muito bonito. Um verdadeiro regalo para todos os sentidos.

Passámos Pontecesures (Rio Ulla), onde andaram barcos Vikings, e entrámos em Padrón, que nos reservou outra surpresa. À nossa espera estava a enorme feira local, que nos obrigou a fazer mais de 1 Km a pé, por entre milhares de pessoas e uma infinidade de tendas e bancas de feira. O almoço foi junto ao albergue desta cidade.

Já com sol, saímos de Padrón para a última etapa. A emoção da chegada a Santiago começava a fazer-se sentir em alguns peregrinos.

O caminho era fácil e a progressão rápida. Passámos na bela aldeia de Angueira de Suso e voltámos a percorrer alguns trilhos de terra.

Já perto de Santiago tivemos que vencer algumas subidas. Foi o caso da subida para do Agro de Monteiros, de onde já se viam as torres da Catedral. Voltámos a descer, finalmente uma derradeira e íngreme subida foi a última dificuldade, antes de entrar na Cidade.

Fizemos o agrupamento de todos os peregrinos, numa esplanada já dentro de Santiago. Percorremos a pé as ruas que ladeiam a zona da Catedral e o momento em que entrámos no grande largo da Catedral de Santiago foi inesquecível. Tínhamos conseguido! A imponência da Catedral e todo o ambiente que a rodeava vai ficar para sempre na memória de todos.

Chegou a altura de juntarmos as bicicletas para tirarmos a fotografia de família. Uma passagem pela Oficina do Peregrino, para receber a indispensável “Compostellae”, documento comprovativa de termos cumprido a peregrinação. Ainda houve tempo para uma breve visita à catedral, antes de irmos tomar o indispensável banho ao Seminário Menor, que também funciona como Albergue de peregrinos. Estavam lá peregrinos de várias países da Europa.

Tinha chegado o momento de regresso. Viagem aproveitada para relembrar e partilhar as muitas aventuras e histórias vividas durante esta peregrinação. Mal tínhamos saído de Santiago e já havia quem estivesse com saudades dos trilhos…..

Agradecimentos

Um agradecimento muito especial ao Félix da Loja Picos (Porto), um habitué nestas andanças de Santiago, que muito me ajudou com os seus conselhos e documentação.

Também um agradecimento muito especial ao Paulo Rodrigues da MaiaCycles, pelo apoio e disponibilidade demonstrada desde o primeiro momento e por toda a ajuda com a mecânica das bicicletas durante a peregrinação. E também na escolha e trabalho de guia no percurso (alternativo) para a saída do grande Porto.

Quero também agradecer à Junta de Freguesia de Retorta, pela ajuda dada no transporte dos peregrinos entre Retorta e o Porto.

Ao posto de Turismo de Vila do Conde por toda a colaboração com a organização em fornecer material informativo e promocional de Vila do Conde.

Um agradecimento especial a todos os peregrinos pela sua presença e pelo excelente espírito de camaradagem e amizade que demonstraram ter durante toda a peregrinação e que tornaram estes 4 dias inesquecíveis. Bem hajam!

Muito obrigado a todos e até à próxima!!!

>> Ligação para texto da autoria de A. Augusto de Sousa, sobre esta peregrinação, publicado na revista Bike Magazine em Novembro de 2002